O Mestre que ensina / O Médico que cura / o Consolador do Ser
Como me aproximar do espiritual? Como entrar em contato com as forças do Cristo? A presença dele na Terra impregnou o mundo. Historicamente o que temos como ponto de partida são os Evangelhos. Cristo, ele mesmo, não deixou nada escrito. Na nossa época atual, o desafio, se quisermos estabelecer uma relação com Ele,é procurar uma outra forma de conexão, porque a antiga, não se sustenta mais. Os Evangelhos podem apenas nos auxiliar de forma mais imaginativa, pois eles mesmos são contraditórios.
Segundo Rudolf Steiner, devemos ler os Evangelhos de forma inspirada. Cada um dos evangelistas quis abordar a biografia do Cristo a partir de um aspecto particular. Tem dois deles que nem foram testemunhas oculares, Lucas e Paulo. A alma humana naquele tempo era muito diferente. Ao longo do primeiro século, não havia nada escrito, a força do Cristianismo se dava através da transmissão oral. O Cristianismo não surgiu como uma doutrina. Atualmente precisamos de um grande esforço para entrar nas imagens dos Evangelhos.
R.Steiner nos dá algumas informações que nos ajudam. Ele escreveu 4 evangelhos para abordar o fenômeno de formas diferentes, cada um sob um ponto de vista, a partir de um lugar em especial. No século II/III havia muitos textos que não tinham uma unidade. O Evangelho de João é o documento por assim dizer mais elevado, grandioso, um olhar de águia para compreender o Ser do Cristo. Para Lucas, é a intensidade do ser amoroso e sacrificial do Cristo o que mais se destaca , os elementos da cura e o elemento feminino. O Evangelho de Marcos é o mais compacto e condensado, ele vai direto ao ponto, nele aparece a dimensão cósmica do Cristo, ele começa com o batismo no rio Jordão. O Evangelho de Mateus é a soma, a mistura de todos os outros, ele faz a ponte, a transição entre o antigo e o novo testamento, cita mais os profetas.
Como imagem, Mateus é o anjo, João a águia, Lucas o touro, e Marcos o leão. Podemos olhar o Evangelho através das parábolas e do processo imaginativo. Para nossa época, é fundamental que nós nos deixemos chamar pelo Cristo. Naquele tempo, Ele chamou os discípulos. Ir de encontro a um chamado, tornar-se discípulo é uma questão do Eu individual do ser humano. Cada vez mais o aceite vai depender da liberdade e da autonomia do indivíduo. É algo que só se desvela na medida em que faço um movimento nessa direção. Ir ativamente ao encontro do mistério do Cristo.
Cristo ensinava, curava e consolava o povo. O sermão da montanha é o supra sumo daquilo que Ele ensinou, a montanha é um símbolo de elevação interior, essa imagem diz muito para nós, Cristo se eleva para falar às multidões. Ele ensina porque alguém está aberto para o que Ele tem a ensinar. No sermão, depois Ele se senta e isso já nos mostra um gesto, o de estar sentado, tranqüilo, ter esse lugar para ensinar. Podemos agora então fazer o gesto de nos elevar para onde Ele está.
É importante que a mensagem do cristianismo seja ouvida pelos seus discípulos, “os discípulos o rodeavam, e então Ele começou a falar”. Ele coloca 12 discípulos à sua volta, é importante que Ele seja rodeado por diferentes maneiras de ouvir. No Evangelho de Lucas o ensinamento e a cura estão presentes. Em Lucas, Cristo fala com a multidão no terreno plano, na planície, e não do alto da montanha. Ele está cercado pelos seus discípulos. “Nem a todos é concedido entender”.
Se o ser humano quer, na modernidade, chegar a Cristo, precisa criar espaço para o logos, para a palavra, ter essa disponibilidade interior. Criar espaço não é muito simples, e em se criando espaço, alguma coisa quer sempre preencher esse lugar. Devemos criar e preencher esse espaço com aquilo para o que ele é criado, estarmos atentos para a preservação do espaço criado para que aí flua e aconteça o que queremos que aconteça. O Evangelho de João tem quatro capítulos inteiros onde Cristo fez um grande discurso em uma casa, num ambiente fechado, isolado e intimo. Ele está com seus discípulos e não mais falando com o povo, mas sim na intimidade da alma humana “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
Rudolf Steiner fala que esses capítulos deveriam ser lidos como sendo o discurso do ressuscitado aos discípulos. Viemos ao mundo para manifestar a força crística em nós, mas se não a percebermos, como a vamos manifestar?
Pastor Renato Gomes
Comunidade de Cristãos / Estância Demétria
29/03/2018
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