O Significado dos Vínculos e Encontros

                                                                                                                   Cap II

Muitos pedacinhos da nossa alma nós deixamos na alma de uma outra pessoa para quando encontrar aqui na terra essa pessoa devolver esse pedacinho para a gente.

Então, o processo de marcar os encontros para uma próxima vida é um processo no qual trocamos “pedacinhos de alma”. É um processo de doação no qual semeamos algo no outro. E o que semeamos no outro? Diz Steiner que o que semeamos no outro é o que esta pessoa vai sentir por nós depois quando estivermos encarnados.

Nós semeamos sentimentos das mais variadas espécies: de muita simpatia, de muita antipatia, de raiva, de dúvida, etc e deixamos isso na alma de outras pessoas e no momento em que encontramos essa pessoa na terra, vai ser ativado esse sentimento.

Quando duas pessoas que, tendo feito esse tipo de troca, se encontram aqui na terra, acontece algo diferente. Tem algumas características que peculiarizam na vida o encontro de pessoas que fizeram essa troca. É importante nos darmos conta de que, quando nascemos, quando vemos uma pessoa e sentimos algo, que isto é algo que esta pessoa plantou antes de nascermos. E aquilo que estamos provocando na pessoa e a pessoa relata sentir, é um pedacinho que deixamos semeados lá. Isto é importante, porque na nossa alma nós somos incompletos e quando nascemos deixamos um monte de retalhos divididos no mundo. E a passagem pela vida e os encontros que ocorrem na terra é um processo da gente voltar novamente a recolher todos os pedacinhos que deixamos plantados nas outras pessoas. Mas tem um mistério aí, esse pedacinho não pode ser pedido, tem que ser recebido de livre e espontânea vontade da outra pessoa. Não adianta ficar de joelhos, nem pedir por favor me devolve o que eu te dei! Diz Steiner que isso é um voto de confiança que damos ao outro.

Por exemplo: vou deixar esse pedaço com você e na próxima vida com seu esforço e seu trabalho você vai me devolver isso, e se a pessoa não quiser devolver, ficamos sem.

Esse processo é tão importante que quando encontramos com uma pessoa e não conseguimos construir um vínculo criativo e construtivo, o buraco que fica na alma é capaz de provocar doenças. É um absurdo tentarmos ser saudáveis apenas fazendo um processo de desenvolvimento interior. Podemos comer toda dieta integral e naturalista, podemos fazer todos os alongamentos, tai chi, todas as técnicas corporais, mas se não conseguimos relações afetivas saudáveis no mundo, vamos adoecer simplesmente porque um pedaço nosso não foi trabalhado. O  processo dos encontros é levado até o plano da saúde, na medida em que,se outros pedaços da nossa alma não são ativados ,podemos simplesmente vir a ter uma doença.

Então, acontece de encontrarmos aqui na terra com uma pessoa com a qual fizemos uma troca, e aí, surge a pergunta: Como vamos reconhecer?

Como vamos saber que é um processo de encontro que marcamos com uma pessoa antes de chegar?

Steiner fala que tem várias maneiras de se reconhecer, só que não tem uma regra para isso porque o processo é muito complexo.

Uma coisa que caracteriza o processo de um encontro cármico, que tem uma origem no passado, é quando uma pessoa encontra outra, sente algo e quando vai descrever para o outro diz: “Acabei de conhecer uma garota que você nem imagina, é incrível, é fantástica, tem uma doçura, uma sensibilidade, etc.”

E a outra pessoa não conseguiu ver nada daquilo nesta garota.

Então, uma das características é que outras pessoas que não estão no enrosco, não vêem nada do que a pessoa vê. É uma possibilidade que temos de , de repente, penetrar no outro e perceber conteúdos da sua alma e o que estamos percebendo no outro não é projeção, é realmente a possibilidade de se dar conta de um conteúdo que o outro tem. É como se o encontro cármico fosse um raio X e conseguimos penetrar na alma do outro e pegar algo que ninguém vê.

Se você conhece uma pessoa e a descrição que você faz todo mundo concorda (é médico, oftalmo, simpático, etc.) provavelmente esse encontro não é cármico.

Agora se a sua descrição é assim, que fulano antipático,  grosseiro, e as outras pessoas não o percebem assim, (olha não é assim, ele não é grosseiro) é sinal de que essa pessoa semeou em você algo que não semeou no outro.

Então, você é que está acordando para esse sentimento, que ele plantou dentro de você, ou seja, essa é uma maneira de perceber quando o encontro é cármico.

A descrição da pessoa é muito subjetiva.

Isso é muito importante, porque essa descrição subjetiva atrapalha muito nossa visão do outro e é justamente através dessa subjetividade que somos impulsionados a nos relacionar com as outras pessoas e isso pode ser a base de algo muito construtivo ou também, a base de algo muito destrutivo, no momento que essa emocionalidade que ninguém está percebendo começa a se enroscar uma na outra e a relação começa a se tornar complicada.

Steiner diz que uma segunda forma de saber se o encontro é cármico, quando o encontro é marcado, é quando a pessoa rapidamente entra nos nossos sonhos. Conhecer uma pessoa e sonhar no mesmo dia, provavelmente é um encontro cármico. E com certeza o encontro é cármico se sonhamos antes de conhecer a pessoa.

Se sonharmos depois, ainda temos a possibilidade de confundir, mas quando sonhamos antes de conhecer, esse encontro realmente é um encontro de destino.

Mas as maneiras de reconhecermos se um encontro é cármico ainda não está explicado com essas questões, pois existem outras questões que envolvem também os encontros entre as pessoas.

A maneira de reconhecermos se um encontro é cármico é através do desenvolvimento da sensibilidade e não da inteligência. É um processo sensível e na medida em que vamos desenvolvendo a nossa sensibilidade para a construção de vínculos fortes no mundo, vamos nos dar conta de como são importantes esses encontros que acontecem aqui na terra. Ou seja, o sentimento que permite reconhecer é o sentimento de responsabilidade perante o encontro, onde passamos a nos dar conta, pela necessidade de construir um vínculo com uma pessoa, como é importante esse sentimento, como é importante esse encontro, como é importante essa pessoa ter aparecido na nossa vida, como é forte esse sentimento e como é necessário trabalharmos com esse sentimento para podermos construir algo. Então, se não estamos atentos para a importância dos encontros, não vamos nos dar conta nunca na realidade, de que é um encontro cármico. Se achamos que as pessoas são descartáveis e usáveis nunca vamos ter essa noção.

Diz Steiner que, essa é a força propulsora para os encontros na terra, só que, por uma série de dificuldades, nem todo mundo se dá conta.

O ideal nos encontros na terra é que as duas pessoas sintam e que as duas se responsabilizem pela relação (2,3,4 ou mais pessoas). Mas o que acontece na realidade num encontro cármico é um despertar de sentimento que não podemos evitar, ou seja, são emoções que surgem do encontro e que é esse o conteúdo do carma que precisamos resolver e trabalhar com essa pessoa especificamente.

Muitas vezes duas pessoas se encontram, passam 30 anos juntos, trabalham na mesma firma e não se dão conta. Isso depende muito da sensibilidade que a pessoa tem. Steiner falava que era muito comum na época dele dois homens se encontrarem e pela dificuldade de um homem encontrar outro e dizer: “Nossa… como você mexe comigo!” e pelo machismo e por toda dificuldade em considerar que entre dois homens possa ter uma ligação afetiva forte, muitos encontros entre homens se perdiam pela dificuldade de trabalhar essas dificuldades afetivas e também, pela dificuldade que os homens têm em lidar com o afeto.

Uma possibilidade, que é a pior de todas, é passarmos pela vida, passarmos anos com uma pessoa próxima, e não nos darmos conta de que tínhamos uma relação para resolver com essa pessoa. É a pior porque se perde tudo que foi marcado antes de nascer. Esse tipo de situação é que propicia doenças indolores.

A pessoa vem na terra, marca um encontro, o espírito no fundo está sofrendo por um encontro que não se realizou, a consciência não está percebendo o sofrimento e vai criando doenças crônicas. Muitas doenças, especificamente o câncer, é por essa dificuldade que temos de nos dar conta de que estamos nos encontrando aqui na terra com pessoas pelas quais temos uma ligação muito profunda.

Esta é a pior situação.

Outra que é muito doída também, mas já é uma dor mais consciente para um dos lados e inconsciente para o outro, é quando duas pessoas se encontram e uma se dá conta e a outra não percebe nada. É uma situação provável e muito freqüente, onde uma pessoa tem mais facilidade de contato com sua vida afetiva, reconhece que aquela relação está mobilizando uma série de coisas que são importantes e para a outra pessoa esse encontro não tem significado nenhum.

Todos nós temos experiências desse tipo de encontro.

Outra possibilidade é: as pessoas se encontram, vem todo um monte de emoções à tona e isso não tem nada com o carma, mas sim com projeções e problemas pessoais que jogamos nos outros. Nesse caso, não estamos resgatando nada, mas criando um pepino que teremos que resolver na outra vida. Ou seja, podemos encontrar com uma pessoa e por uma questão não resolvida em nós, jogamos uma antipatia e dizemos “você é responsável porque plantou antipatia”.  Steiner fala que a pessoa não tem nada com isso, a antipatia é nossa, estamos irritando a outra pessoa e fatalmente teremos que nos encontrar em outra vida para resolver essa irritação que não tinha nada com a pessoa.

Temos que aprender a distinguir, dentro de nossa alma, quando é uma projeção nossa. Que o primeiro momento do encontro é como se existisse uma percepção de EU para EU. Percebem-se dois espíritos, e daí para frente, aquilo que foi dado de graça na paixão agora vai ter que ser conquistado.

                                                                                            Gerardo A. Blanco

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Published in: on 15/05/2009 at 7:30 p05  Deixe um comentário