Psicoterapia e Câncer

 

 A conexão entre o câncer e os estados emocionais, vem sendo observada há séculos.

Do ponto de vista da Psicologia enquanto ciência sistematizada, é aproximadamente no começo do século XX que ocorrem as primeiras contribuições para diagnóstico e tratamento do câncer.

Wilhemlm Reich e Carl Yung, por exemplo, desenvolveram extensa pesquisa e relatos clínicos nesta área, e nas últimas décadas, os humanistas de uma forma geral, vem trabalhando com diferentes abordagens psicoterápicas, desde técnicas verbais a corporais.

Até 20 anos atrás, existiam duas correntes distintas de literatura e pesquisa – a médica e a psicológica. Hoje já há um intercâmbio maior entre psicologia e medicina, assim como recursos terapêuticos interconectados de ambas as áreas .

Em textos especificamente dirigidos à Ciência da Alma, contidos em palestras que vão de 1912 a 1921, Rudolf Steiner, bastante crítico com relação às descobertas da psicologia de então, deu direções para que o psicólogo, ou o “investigador da alma” , como assim designava, buscasse de fontes mais profundas, as forças pelas quais surgiriam outros métodos de percepção, outras imagens além do que as da vida comum.

Isto nos remete à importância do desenvolvimento de uma cognição superior, ou seja, de um caminho interior de aprendizado e aprimoramento espiritual, comprometido com a elevação e o fortalecimento da própria individualidade do psicoterapeuta e , dessa forma, com a evolução da humanidade como um todo.

Em 1920 R.Steiner também apontou para o fato de que o problema do câncer não era apenas um problema celular, mas que ocorria quando as forças formativas do organismo eram perturbadas – o tumor sozinho não era a doença. E indicou o viscum, uma planta parasita, como um medicamento específico para esta doença.

O câncer cresce como um parasita e retira forças vitais de seu hospedeiro, o organismo.

Conviver com perguntas, enquanto um método no processo de conhecimento da doença e abordagem do paciente canceroso, é  fundamental : Que causas levam algumas pessoas a contraírem câncer , e o que previne outras de contrair ? Hereditariedade e ambiente saõ fatores essenciais ? O que de fato vive no indivíduo com câncer ?

Muitos outros fatores devem ser levados em consideração para a compreensão desta doença, fatores estes ligados à história da humanidade, à época em que vivemos e ao futuro desenvolvimento do ser humano. Para a presente finalidade, porém, citaremos apena o paralelo entre os aspectos observados no organismo físico e no organismo psíquico, a saber , o sistema imunológico e os mecanismos de defesa.

Assim como o sistema imunológico corresponde às defesas naturais do corpo físico, os mecanismos de defesa psicológicos correspondem às defesas da alma ,  pensamentos, sentimentos e vontades.

Mecanismos de defesa fortalecidos estão designados a combater aspectos estranhos à personalidade do indivíduo; defesas bem sucedidas, geram a cessação daquilo que é ameaçador.

Em algum momento da estória do paciente com câncer, da sua biografia, há um descuido por parte destes mecanismos, e a alma se deixa invadir por elementos destrutivos à sua própria natureza .

Similarmente às células cancerígenas que se agrupam autonomamente no corpo, observa-se um núcleo emocional de dor, sofrimento, ressentimentos, como que um casulo na alma, que demanda uma grande quantidade de energia vital do organismo.

Antes mesmo de a doença ser diagnosticada, muitas pessoas têm a percepção de um desencontro , um desarranjo interno, com pensamentos que não combinam com as próprias ações, sentimentos ambivalentes e desconectados, sintomas esses pertencentes a uma crise existencial, dessas pelas quais todos passamos ao longo da vida, e que fazem parte do desenvolvimento.

O que cada um de nós faz de fato com esses momentos de crise, o que conseguimos transformar em prol de nossa própria saúde e evolução ?

Este quadro costuma ser acompanhado de tristeza, angústia e/ou ansiedade, mas isto tudo pode ser camuflado. Entretanto, quando a doença é deflagrada trazendo consigo a possibilidade de finitude da vida, o caos realmente se instala. Insegurança e medo são então,via de regra, os sentimentos que brotam. A desordem generalizada tem lugar e os limites orgânicos e psicológicos são atravessados.

Toda a identidade da pessoa como ser humano perde-se e funde-se na sua identidade enquanto paciente com câncer.

Portanto, tratar uma pessoa com câncer do ponto de vista de uma psicologia orientada antroposoficamente, significa muitas coisas.

Dentre elas :

– Considerar o caos como a possibilidade de uma nova organização;

– Não perder de vista o indivíduo como um todo e buscar resgatá-lo enquanto agente da própria vida, estimular a que se aproprie dela;

– Familiarizar-se com os demais tratamentos e medicamentos a que o paciente está submetido;

– Vencer preconceitos, estar aberto ao aprendizado de novas abordagens, rever as antigas, criar pontes, fazer sínteses;

– Facilitar a elaboração de uma nova consciência ajudando o paciente a compreender seu destino , a ver a doença como uma oportunidade para rever prioridades e se abrir a reais e significativas mudanças;

– Vivenciar e propiciar ao paciente encontros com a arte em geral , com a música, literatura, teatro, dança, o cinema, com o “sagrado”;

– Refinar-se como instrumento de cura, buscando, no mundo fora e dentro de si mesmo, os recursos e as práticas necessárias ao fortalecimento das forças morais, da própria vitalidade e do equilíbrio emocional, sabendo-se um ser humano em um encontro único com outro ser humano, ambos em luta pela própria humanidade.

Em suma, R.Steiner indicou vários instrumentos para diagnóstico e ampliação da anamnese  no tratamento do câncer (e inúmeras outras doenças), como por exemplo as metodologias para observação da constituição humana, as tipologias, como os temperamentos, os aspectos planetários e zodiacais, as leis biográficas e cármicas, etc..

No entanto, a prática psicoterapêutica antroposófica pressupõe, para além de toda e qualquer técnica e abordagem, uma visão evolutiva do Homem e do mundo , aliada à uma disposição constante para desenvolver-se em amorosidade e liberdade.

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Published in: on 12/03/2010 at 7:30 p03  Deixe um comentário