A ciência, na realidade, é um diálogo entre o mundo e o pesquisador. Um diálogo que vai e volta. Ao fazer ciência o ser humano conhece o mundo e também a si mesmo.
Existe no campo da ciência um mito alimentado por Descartes de que a ciência deve ser objetiva e descrever os fatos externos. Esse mito está muito arraigado na época contemporânea. O impasse que se criou entre a ciência oficial e a alternativa não pode ser solucionado se nos dedicarmos apenas a descrever os fatos de forma objetiva. É preciso que façamos uma revisão dos postulados básicos do pensamento.
Necessitamos reaprender a observar a Natureza de uma forma comum, mas precisamos principalmente observar a nós mesmos. Definitivamente, o pesquisador não pode ser eliminado da pesquisa. Esse foi um dos maiores erros ocorridos dentro do mito científico moderno : o pesquisador e a pesquisa foram dissociados.
As idéias sobre método científico contidas neste texto estão inspiradas nas obras filosóficas de Rudolf Steiner que foi um filósofo austríaco que viveu no começo do século 20 e estabeleceu as bases de uma metodologia que reúne o pensamento lógico e o pensamento analógico dentro de uma unidade funcional. Quando a enciclopédia britânica procurou Steiner para que, de próprio punho, fizesse uma definição do que é Antroposofia, ele escreveu : “ Antroposofia é a ciência feita com o Eu Superior do Homem ”.
O que ele quis dizer com isso ? Essa definição pode ser vista sob vários ângulos. Agora vou relacioná-la com o que venho expondo sobre o pensamento. Se estivermos tão impregnados pela lógica ou pela analogia sem nos darmos conta de que ambas nos oferecem pontos de vistas relativos, parciais e complementares, não estaremos usando a nossa liberdade de pensar com todo o seu poder. Mas se coloco cada forma de pensamento de um e de outro lado, o que fica no meio para fazer a união ? O meu Eu, a minha individualidade, que pode se valer livremente do pensar.
Dito de outra forma e em palavras do Steiner : “Queres conhecer o Universo ? Procura no mais fundo de ti ! Queres conhecer a ti mesmo ? Procura no mais profundo do Universo!”
Antroposofia, etimologicamente falando, significa “a sabedoria do homem”. A sabedoria, a sofia, é a capacidade de conhecer que o ser humano exerce quando usa todo o seu potencial mental e criador. Isso não quer dizer que as pessoas que trabalham com Antroposofia sejam sábias. Apenas reconhecem a necessidade de manter o equilíbrio no pensamento.
Pessoalmente me dedico há muitos anos a estudar o método científico antroposófico e a exercer a minha profissão de médico orientado por essa filosofia. E ocorre com esse estudo algo muito mais primordial para mim do que ser sábio : reconhecer as minhas limitações.
É por causa da necessidade de ampliar o método científico que Rudolf Steiner escreveu e difundiu o método antroposófico, inspirado na quase desconhecida obra científica de Goethe. A rigor, é um erro denominar esse método de novo. É novo na feição, no sentido de se adaptar bem à época e mentalidade contemporâneas. A divisão do nosso pensamento em lógico e analógico é tão antiga quanto o próprio pensar. E, do que sabemos a respeito de Aristóteles e Platão, é um problema bastante antigo, que vem sendo pensado pelo ser humano há séculos.
Afinal, todas as pessoas pertencem à espécie Homo Sapiens, que significa homem sábio. Se observarmos atentamente a humanidade, não concluímos exatamente que sejamos uma espécie especialmente sábia. Os conceitos definem o que podemos observar. As analogias definem pelo vir a ser, pelo que podem se tornar.
Quando alguém usou a expressão “Homo Sapiens” para falar do ser humano, sem dúvida usou uma caracterização analógica. Pois o ser humano pode ser sábio. Precisamos cada vez mais da honestidade para reconhecer que temos usado instrumentos mentais insuficientes.
A Antroposofia é um método que nos permite entender o caminho que leva até essa sabedoria tão almejada pela nossa espécie e de que todos, sem exceção, temos direito de usufruir.
Todas as pessoas são dotadas de uma individualidade livre, que pode nos estimular cada dia mais a realizar o sábio processo de integração do nosso ser.
Gerardo Antonorsi Blanco , em Ciência, Arte e Fé.