Vamos filosofar sobre a qualidade do nosso olhar sobre a realidade, vamos ver o que a ciência, a tradição e a arte tem a dizer sobre de onde viemos, como pensamos o que pensamos, e como mudar o que pensamos.
Temos uma lente, uma forma para pensar a realidade, e quando dizemos “ eu não sei ”,estamos aprendendo. Graças aos céus, aquilo que a gente quer nem sempre se realiza, porque nosso ponto de vista é muito limitado. Mas a vida é muito maior, ela não atende aos nossos desejos, mas sim aos nossos desígnios.
Somos frutos da cultura e a visão de mundo que temos não é a verdade absoluta. A atividade de se tornar um indivíduo é o desafio do desenvolvimento. Tornar-se quem se é, é o grande exercício de transformação que precisamos empreender ao longo da vida. A metáfora para isso é a borboleta : lagarta, crisálida, borboleta. A crisálida representa todos os momentos de crise. Segundo João da Cruz, “a noite escura da alma”. E quanto mais enfeitada a cela, mais difícil abandonar. Tem coisas que não é de explicar, é de viver.
Todos nós temos paradigmas, que são fôrmas da cultura. Como se dá a nossa visão de mundo ? Todos enxergamos a realidade através de lentes desde pequenos e isso tem uma finalidade estruturante. E quem não tem, se torna disfuncional na cultura. Vemos o mundo através de lentes e crenças. A Biologia Cultural, tese de Maturana e Varela, explica como nosso corpo acaba tendo a expressão física do que a cultura nos informa, e nossa saúde depende desse padrão cultural e estilo de vida.
A Universidade de Londres fez uma pesquisa sobre esse trabalho, e no experimento, colocam bebês de tip top rosa e depois azul para ver a reação dos adultos na relação com eles e como isso influencia a criança.
O que se é, é diferente do que se aprendeu a ser. A educação tem duas finalidades : a primeira é transformar a nossa vida, e a segunda , precisa ser curativa, nos curar da nossa estória.
Freud e a descoberta do inconsciente foram fundamental para a cultura. Estamos vivendo o tempo da física quântica, a velocidade aumentou, nos abrimos pra outras realidades e agora temos mudanças instantâneas. Antes estávamos vivendo o tempo da física mecânica.
Quero falar sobre o senso da falta e da escassez. Desde pequenos aprendemos que o que vem fácil, vai fácil. O não esforço nos dá uma culpa danada. Nesse paradigma também cabe a reclamação, que é gêmeo do esforço. Esforço é o peso emocional que colocamos na vida.
Só que oxigênio, luz solar e água caem do céu ! E isso cai fora do paradigma da escassez. Tem gente que não sabe viver sem dor nem doença. A vida não desiste de nós. A dor é um sinal de que precisa acontecer uma mudança. A dor pode ser inevitável, mas o sofrimento é opcional. Não é o esforço que nos dá força. E quando estamos preocupados com subsistência, a gente não tem existência.
Mudar a formulação de realidade e colocar foco no positivo aumenta a energia, o sistema imunológico, secreta ocitocinas, dopaminas, endorfinas. Tudo a ver com a forma de pensar que afeta nossa performance, nossa saúde.
Nós não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos. É preciso ampliar nossa visão de mundo. O cérebro não aprende com afirmações, mas com perguntas, por ex : Como mudar isso ? Como aprender ? Etc..
Esso é um método. Quanto nos perguntamos sobre o que de fato queremos saber ? Precisamos duvidar de quem somos. As possibilidades são amplas. Um arquétipo antigo é sempre um sapato apertado.
Mudar de mundo é mudar de olhar. A gente sempre precisa atualizar a lente. Há que se ter muita delicadeza com as grades de cada um ; elas tiveram uma finalidade, mas precisamos descobrir que elas não são a nossa vida. E não é só tirar a grade, é compreender a vida, é evoluir para um campo maior.
E o propósito é encontrar a si mesmo e não mudar o outro. Todo o conhecimento é para aumentar a compaixão. Enquanto não nos transformamos, o mundo não se modifica. A nossa auto transformação é a maior construção para a humanidade.
Gestão de processos para revisão das nossas visões de mundo para saber qual a nossa verdadeira natureza. Somos essencialmente átomos. O átomo é a qualidade energética do Universo manifesto, e ele é abundante. Tudo o que queremos materializar na vida depende de átomos.
Um campo quântico é um campo atômico. A essência onde tudo se manifesta. Quando estamos bem, é como uma dança cósmica. Qualquer estresse ocasiona problema nesse campo. Os radicais livres envelhecem, adoecem e são produzidos por estresse. O excesso de elétrons no corpo produz os radicais livres que oxidam o campo atômico.
Se considerarmos o átomo um primeiro nível de organização, o segundo é o molecular, e é aí que aparece a vida. O átomo tem a ver com energia e a molécula com informação.
Um terceiro sistema que se organiza é a célula, que tem função de excreção e secreção. Assim, velhice é passar fome, é uma nutrição que não se faz.
O quarto processo é o orgânico, e esse é visível a olho nu. Ele só mostra o que está acontecendo nos processos anteriores. O campo atômico e o campo molecular são extremamente afetados pelo estado hormonal.
Estresse é uma forma de ver o mundo. É uma resistência que apresentamos quando a realidade não é como queremos, quando resistimos àquilo que é. As coisas são como são. O corpo de um bebê é alcalino, e de um velho é ácido. Gestão de estresse é fundamental.
Pensamentos danosos adoecem. Amadurecimento é diferente de envelhecimento. O primeiro é um processo biológico, e o segundo, um processo cultural.
Meditação constrói um campo quântico mais harmonioso. Sai do campo dos pensamentos que abalam o sistema e abre o campo para a vida. É preciso entrar em níveis mais profundos para fazer mudanças mais significativas.
Os nutrólogos dizem que tem cinco ( 5) elementos danosos para o organismo : heroína, cocaína, farinha branca, sal branco, açúcar.
Arte como elemento curativo é uma boa dose de medicação diária.
Estamos apenas no começo da Era Quântica. A nova ciência, a nova performance para tratar essa nova realidade transpessoal.
A grande descoberta do século 21 é o ser humano. Qual o desafio da humanidade nesta época ? Somos uma substância pensante e modelamos o que somos de acordo com o que pensamos. E somos altamente modeláveis.
Sobre a impecabilidade da palavra . Somos habitados por símbolos e precisamos ter responsabilidade sobre nosso próprio campo. Há que ver o melhor do mundo e semear em si mesmo o mais belo, o mais formoso, e cultivar a bem aventurança. Treinar e constituir outra forma de realidade. Limpar o campo quântico do mal dizer da vida. Nós nos tornamos melhor naquilo que treinamos mais.
Estamos todos a serviço da Grande Vida e nesse campo há trilha, não tem caminho pronto nem pavimentado.
Depressão é quando você recebe o plano A para a vida, e se ele não funciona, você não tem um plano B. Como lidamos com frustração ? Ou tentamos de novo a mesma coisa, ou tentamos de outro jeito, ou vamos fazer outra coisa. A curva invertida da ação é a depressão. E ela tem a ver com a percepção das escolhas do campo da liberdade. É preciso que reformulemos nossa visão de vida.
Não tem nada melhor do que sair da ilusão. As nossas ilusões não comportam a multiplicidade da realidade. Quando ampliamos a nossa visão estamos nos libertando. Desiludir-se é expandir-se.
O desafio de amar é o desafio de amar as pessoas como elas são. Então primeiro temos que duvidar. Somos nós os indivíduos que constroem as bases da nossa liberdade. Mas o processo de investigação é fundamental. Tem também a ver com a questão dos talentos que estão disponíveis e que não percebemos, portanto não usamos.
No paradigma da escassez estamos acostumados a economizar até nos dias especiais. Para ser especial tem que ser raro ? Quem falou isso ? Porque estamos seguindo isso que não tem a ver com o campo da felicidade ? Temos que ter a medida da felicidade. Tem gente que economiza de si até os sonhos. O pior dos desperdícios humanos é a economia de si mesmo.
As coisas na vida são impermanentes. A vida não é para dar certo, é para ser vivida. Ela não é uma utilidade, é uma experiência. Temos que nos orientar a partir de um campo amoroso. Será que há um cenário maior de vida, um sagrado que pode ser plenamente vivido ? Há algo que podemos fazer com que abramos as asas para encontrar todas os cenários e viver todas as aventuras para sermos plenos ?
Göethe chama de “campo decisório “o lugar aonde fazemos nossas escolhas. Quando a gente diz sim para a vida, uma enorme quantidade de energia se dispõe para nós. Vamos ficar vivificados com uma poderosa força de transformação para fazer parte da nossa realidade. Às vezes a ignorância nos protege, porque, se soubéssemos o que aconteceria, não teríamos dito sim. Mas trilhar uma trilha completamente nova significa estar aberto para os processos que vão acontecendo no meio do caminho.
É o caminho que nos prepara. Segundo Roberto Crema, nós somos as pessoas por quem estamos esperando. Não tem resposta pronta para aquilo que não está feito. É muito importante se dar conta do que não se sabe.
Segundo Sócrates, tudo o que o indivíduo sabe é uma aura luminosa de saber sobre ele, e quando vai aumentando essa aura, o indivíduo vai percebendo que sabia pouco. A sabedoria é o conhecimento da própria ignorância. “Tudo o que sei é que nada sei “.
Os 22 arcanos do Tarot são uma referência milenar. Temos ciclos de aprendizagem de hábitos que é de 21 dias. Mais de 60% de hábitos podem ser mudados nesse tempo. Isso tem a ver com circuitos cerebrais , caminho neuronal. Todos os padrões de comportamento que temos foram aprendidos. Assim que, se todos os dias trabalharmos um propósito durante 21 dias, isso permite que façamos mudanças extraordinárias.
Há uma coincidência dos setênios, que é a forma de compreender a vida em ciclos de 7 anos, com o campo biológico arquetípico do matemático Fibonacci. A cada período “x” de vida temos janelas conscienciais e podemos fazer limpezas para estarmos disponíveis.
Quando usamos nosso poder, nossos dons e talentos, isso é uma medicina para a humanidade. O que é que, como dom, trazemos para a humanidade ?
O Brasil tem um imenso patrimônio imaterial. Por ex. nas populações ribeirinhas do rio Amazonas, existem duas parteiras para dar à luz às crianças que nascem. A primeira parteira traz a criança ao mundo, e a segunda, é a parteira do dom da criança. Assim que, nós todos podemos fazer o parto dos nossos próprios dons.
Viver é um campo maior do que sobreviver.
Até agora vimos conceitualmente as questões de paradigma, de constituição de realidade e gestão do campo da vida. Precisamos agora revisar o campo das percepções. E nos perguntar : qual a minha vocação neste mundo, independente da minha profissão ?
A vocação é descobrir “quem eu sou“.Como vou descobrir o que é meu e o que não é ? A filosofia dá um encaminhamento a esta questão. Dedicar-se suficientemente ao autoconhecimento. Estar em estado de atenção é o primeiro requisito. Dar tempo para a atenção que já é por si um milagre. Há sempre um treino a ser feito. Demanda desligar-se do que não se é e preparar-se para o que se é.
O maior filósofo vivo hoje é Ken Wilber e precisamos estudá-lo para entender a sua filosofia. Ele tem uma prática diária de meditação por 3 horas, depois lê durante 4 horas sobre qualquer coisa que lhe interesse, e depois disso produz por uma hora. Dedicação é o tempo para preparar o melhor de si mesmo.
Sobre as vantagens de ir ao interno encontrar-se consigo mesmo. Aristóteles percebe que tudo é construção, e a base para construir a vida são os hábitos. Mudar hábitos é angular e isso muda a dimensão do que é visto. Ou somos iluminados, ou precisamos dos paradigmas para chegar à iluminação. Por ex., precisamos aprender limites no mundo da dimensão.
Jung fala dos 12 passos para educar a criança arquetípica. O primeiro é dominar a própria violência para aprender a conviver. Precisamos fazer o caminho de ajustar o Ser ao Estar. A Escola da Ponte, a Escola Waldorf, a Escola Construtivista são propostas para desenvolver isso na criança.
Do ponto de vista cerebral sabemos hoje que só acessamos 15% do cérebro, assim como os aplicativos disponíveis no celular que não usamos. Nossa capacidade cerebral é muito maior do que aquilo que estamos preparados. Há que se conviver com o que não se sabe, com o mistério. E a finalidade disto é nos abrirmos para o que é maior do que nós.
No processo filosófico só há um jeito de ensinar : é dar testemunho de um caminho. E quando a gente olha esse testemunho, a gente vê e decide do que se aproximar ou não .
É preciso enxergar o potencial no humano que está ao nosso redor e permitir que ele floresça. Precisamos ver a árvore implicada na semente. A gente precisa de fé para olhar para o indivíduo em confiança e ver que ali cabe todo o potencial da humanidade. Fé de que as pessoas são capazes de florescer.
Claude Lévi Strauss passa muito tempo com as tribos indígenas brasileiras e faz uma síntese da visão de mundo deles. De alguma forma nós herdamos a visão européia de mundo ao invés da visão indígena. Esta última vê que no outro há algo de divino ; para eles os espanhóis eram deuses, e para os espanhóis, os índios sequer eram humanos.
Kaka Werá diz que segundo os anciãos das tribos, agora estamos vivendo o tempo do sopro, e não mais da erva. Estamos todos ligados ao grande pulmão vital que é o oxigênio . A ciência está descobrindo o campo quântico. Aprender a respirar é uma grande tarefa.
Para Gurdiev e a tradição sufi, na respiração o indivíduo se ilumina. Quando perdemos a noção do todo somos presas fáceis da normose. E em Jean Yves Leloup, nos inteiramos das práticas dos terapeutas do deserto.
O mundo é um espelho de uma realidade íntima. Hermes Trismegisto nos fala que tudo está em relação com tudo. Somos sementes de mundo . Precisamos nos recolher na caverna da consciência e re orquestrar o campo para encontrar a resposta perfeita para uma vida bem vivida.
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Síntese da palestra de Dulce Magalhães
Seminário inserido na Pós Graduação de Psicologia Transpessoal
Setembro 2015