Para falar sobre este tema, temos que partir de uma idéia central que é a sincronicidade. Carl Jung foi o primeiro a falar sobre sincronicidade que é uma coincidência significativa, um encontro entre o tempo e o espaço.
Sincronia dentro do âmbito espiritual, não é nada mais do que a presentificação do Carma. E para que a Psicologia Antroposófica possa se desenvolver, deve haver uma renovação na relação com a espiritualidade . Estar na vida significa fluidez e adaptação reflexiva, e não passiva. Assim, temos que pensar na geração de uma nova cultura humana.
Sem a presença do Eu , que é nossa essência espiritual, não vamos poder reconhecer o encontro entre pessoas de uma Comunidade, e sem esse encontro, não se consegue gerar uma nova cultura.
Qual a verdadeira relação que estabelecemos com o que fazemos ? Temos que digerir muito bem todas as sensações do mundo, porque se não o fizermos, nos sentiremos compelidos a fazer coisas. É muito importante reconsiderar os encontros e poder tê-los no centro do coração, eles não são casuais, são coincidências que se dão com um sentido que está dirigido à uma parte adormecida do nosso Eu.
Na dimensão corporal do trauma, quando ele acontece, temos uma intervenção na força formativa do primeiro setênio. Na psicanálise isto se denomina Ego Cindido. Porém as forças do Eu, pela sua própria natureza, não podem ser danificadas, mas sim as forças do corpo na alma infantil.
O corpo físico se desenvolve dentro do sentido do tato, que permite a experiência de unidade. O corpo físico é o único à imagem e semelhança de Deus. Um corpo ferido não permite à pessoa ter experiência de unidade, de que sua vida tem um sentido.
Existem traumas que afetam antes do “rubicão”, por volta dos 9 anos, depois dele , e mais à frente com a encarnação do Eu, por volta dos 21 anos.
Vale a pena agora nos questionarmos que tipo de mundo estamos construindo, se um mundo de Eu’s, ou de pessoas existencialmente incapacitadas. Quais as condições atuais que permitem a futura encarnação do Eu no corpo das crianças ? Precisamos gerar condições adequadas para os três primeiros setênios de vida .
Quando acontecem traumas, precisamos gerar novamente as condições formativas dos setênios, recuperar e restabelecer as forças que foram destruídas, como por exemplo, a confiança. Temos que ser fenomenológicos e epistemológicos para saber quais são as forças constitutivas dos setênios e aprofundar nosso entendimento sobre elas para podermos restaurar no paciente as que ele perdeu.
O Caminho Interior de desenvolvimento do profissional é essencial . Qual seria a condição fundamental de um psicoterapeuta para tratar de um paciente severamente traumatizado ?
Isso tem a ver com a validação da dor do outro. Significa que o coração se abre para conter a dor que o outro tem sem julgamento. Validar algo é dar valor. Estar absolutamente presente para receber a dor do outro. E isso não é uma coisa simples. Mas o primeiro e o último passo para tratar o trauma, é poder escutar. Uma escuta com a mente, o coração e a vontade. Como aprendemos a estar presentes e de coração aberto ?
Porque isso é o que realmente transforma a situação traumática.
E isso é o encontro de dois Eu’s .
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Palestra proferida pela psicoterapeuta Adriana Masieri no 1º Epapa
Encontro Pan Americano de Psicologia e Antroposofia – outubro 2014