
Do ponto de vista da clínica em Psicologia, sabemos que o paciente se torna o agente de sua própria estória quando vai sendo capaz de perdoar a si mesmo e/ou a outros que lhe causaram algum sofrimento. É uma ação verdadeiramente libertadora.
Vontade, esforço e tempo são fatores essenciais na longa jornada em direção ao perdão, que é, ao lado do amor, o mais elevado dos sentimentos. E por isso mesmo, da ordem de uma consciência mais refinada, de um ego que se lapida para aportar um Eu superior.
De acordo com sua etimologia, a palavra “perdonare”, do latim, significa doar. “Per”, por inteiro, e “Donare”, dar.
Em um processo psicoterapêutico encorajamos o indivíduo a caminhar rumo ao seu centro, para lá encontrar sua própria identidade essencial, íntegra, única capaz de congraçar ambivalências, opostos e paradoxos.
Vários são os aspectos que entram em jogo no caminho do perdão, como a confiança, a culpa, o ressentimento, a vingança, o sentimento de traição. A alma percorre muitas etapas em busca de conciliação consigo mesma.
Em sua extensa pesquisa sobre a traição, o psicólogo James Hillman conclui que, assim como a confiança contém em si a semente da traição, esta, por sua vez, contém a semente do perdão. Ressalta a importância do lado sombrio das experiências como condição sine qua non para o desenvolvimento da nossa humanidade.
Para Rudolf Steiner a evolução espiritual não se manifesta pela capacidade de armazenar conhecimentos, declamar verdades ou fazer milagres, mas pela capacidade de corrigir os próprios erros.
Aos interessados em se aprofundar nos fundamentos espirituais sobre o tema, sugiro a leitura do livro “O Significado Oculto do Perdão” de Sergei Prokofieff.
A imagem que ilustra esse post foi concebida pelo ucraniano Alexander Milov. Ela representa o conflito entre dois seres humanos, assim como a expressão interior da natureza humana: os adultos em posição antagônica, enquanto a criança interior só quer perdoar e amar.
Eliane Utescher
Psicóloga / Terapeuta Biográfica
agosto 2022