Retrospectiva

O homem deve tornar-se capaz de fazer, da capacidade de amar, uma força para o conhecimento. Ora, um certo preparo para aquela capacidade de amor espiritual se realiza quando nos livramos, de certa maneira, de tudo o que nos prende às coisas exteriores – por exemplo, quando fazemos regularmente um exercício que consiste em representar-nos os acontecimentos por nós vividos, não em sua sequência normal, mas seguindo o curso oposto.

O nosso pensar ordinário, passivo, segue servilmente os acontecimentos do mundo. Um drama apresentado no palco começa elo primeiro ato, depois vem o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto. Mas se conseguimos, em nossa imaginação, começar pelo fim, pensando depois no que imediatamente precede, depois no começo do quinto ato, depois no quarto, etc, até o início da peça, aí nos desprendemos completamente da sucessão exterior dos fatos do mundo.

Devemos fazer um esforço enorme, partindo de nós mesmos, para representar os fatos retrospectivamente. Dessa forma arrebatamos a nossa atividade interior da corrente que nos puxa normalmente para a frente, e isso conduz a nossa maneira interior e anímico espiritual de viver, pouco a pouco, até aquele ponto onde o anímico espiritual realmente se desprende do corpóreo  também do etérico.

O homem pode preparar-se para esse arrebatamento se conseguir representar, a cada noite, os acontecimentos do dia, mas numa sucessão retrógrada : primeiro o que ocorreu por último, e assim por diante, inclusive os detalhes; por exemplo, se subimos uma escada, imaginando estarmos no último degrau, depois no penúltimo, isto é, representando descer para trás o que na realidade realizamos subindo.

Muitos dirão : “Mas isso dura muito tempo, pois vivemos tantos fatos num dia !” Isso não deixa de ser lógico. Então, comecemos por um episódio apenas : representemos o subir e o descer da escada em sentido contrário ; primeiro o descer, depois o subir de forma indicada. Fazendo isso, vamos adquirindo uma certa mobilidade interior até conseguirmos finalmente imaginar o decurso inteiro do dia dentro de 3 ou 4 minutos.

Trechos em “O Conhecimento Iniciático”  Rudolf Steiner

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Published in: on 02/11/2012 at 7:30 p11  Deixe um comentário