Estresse é um problema químico. Quando as pessoas se sentem estressadas, um diminuto circuito na base do cérebro provoca a liberação de glucocorticóides, uma família de hormônios do estresse, que coloca o corpo em estado de alerta.
Essas moléculas têm esse nome por conta da sua capacidade de aumentar rapidamente os níveis de glicose no sangue, proporcionando músculos com uma explosão de energia. Elas também descontinuam todos os processos corporais não emergenciais, tais como digestão e a resposta imunológica.
“Isso é apenas o corpo sendo eficiente”, diz Dr. Robert Sapolsky, pesquisador da Universidade de Stanford, EUA. “Quando você está sendo perseguido por um leão, você não quer desperdiçar recursos no intestino delgado. Você vai ovular numa outra hora. Você precisa de cada gota de energia apenas para fugir”.
Mas os glucocorticóides têm um efeito colateral desagradável: Quando eles permanecem na corrente sangüínea, o dano é cumulativo. É a versão fisiológica de um governo dedicando recursos em demasia para seu Ministério da Defesa, diz Sapolsky. O corpo está tão preocupado com a guerra que não conserta as estradas nem investe nas escolas. Curiosamente, os efeitos do estresse parecem ser particularmente tóxicos para o cérebro.
Elizabeth Gould, uma neurocientista da Universidade de Princeton, EUA, é conhecida por demonstrar que o nascimento de novos neurônios – processo conhecido como neurogênese – ocorre no cérebro adulto. Durante os últimos anos, Gould tem estudado a relação entre neurogênese e o estresse em primatas. Ela descobriu que quando o estresse se torna crônico, os neurônios param de investir em si mesmos. O processo de neurogênese então diminui. Os dendritos encolhem. As árvores neurais definham.
Essas alterações celulares ajudam a explicar porque, como os pesquisadores observaram, “uma parte grande das mudanças na estrutura do cérebro e função (induzida pelo estresse crônico) têm características semelhantes àquelas observadas em doenças neurodegenerativas, principalmente doença de Alzheimer.” E quanto maior o nível de hormônio do estresse, maior o nível de declínio cognitivo.
Um dos mais inquietantes aspectos desses efeitos do estresse é a forma como eles são transmitidos através das gerações, de pai para filho. Gould demonstrou, por exemplo, que se uma macaca rhesus grávida é forçada a enfrentar situações de estresse, como por exemplo ser assustada por uma buzina estridente, suas crias nascem com redução na neurogênese, mesmo que elas jamais experienciem esse tipo de stress após o nascimento.
Esse trauma pré-natal, assim como o trauma sofrido na infância, tem implicações ao longo da vida. Os filhotes de macacos estressadas durante a gravidez têm hipocampos menores, e sofrem de elevados níveis de hormônios de estresse e ansiedade.
Ou então vejamos os seres humanos: Um recente estudo descobriu que as pessoas agredidas por seus pais durante a infância mostraram alterações epigenéticas no ADN, algo que alterou os seus genes como foram lidos. As alterações mais proeminentes envolveram genes que codificam receptores para os glucocorticóides, o que levou a uma ampliada resposta ao estresse. O abuso pode ser temporário, mas o dano é permanente, uma ferida que jamais cicatriza.
Mas nem todo ataque de stress é tão devastador. Experimentos mostram que exercício intenso pode levar à liberação de glucocorticóides. E vejam que o exercício físico ainda é confiavelmente associado a todos os tipos de efeitos positivos para a saúde.
Essas anomalias levaram alguns cientistas, incluindo Gould, a procurar as moléculas adicionais no cérebro que possam servir de “amortecedores” à resposta ao estresse. A lista de candidatos de Gould foca nos neuromoduladores, como a dopamina e a oxitocina, que são liberadas quando sentimos prazer. Ela argumenta que esses sentimentos de prazer – a capacidade de encontrar sentido no nosso trabalho, mesmo que seja estressante – podem neutralizar os efeitos tóxicos de glucocorticóides.
Essas moléculas podem também explicar porque todos os zeladores não morrem de doença cardíaca quando ainda jovens, e porque as agradáveis formas de exercício nos fazem bem. “Existem importantes diferenças individuais quanto a como as pessoas reagem ao estresse”, diz Gould.
Jonah Lehrer
revista Wired 10/8/10