Tem-se dito que estamos em uma crise planetária gravíssima, de alto risco para a espécie humana. A desagregação dos ecossistemas promovida pelas limitações da atual consciência humana centrada na ganância, usurpação, exploração indiscriminada dos recursos, semi escravização humana e outros fatos deploráveis, tem agravado situações sociais insustentáveis e gerado um sistema quase ininterrupto de pequenas e grandes crises.
No âmbito pessoal, estamos percebendo o agravamento também de diversos distúrbios : stress excessivo, depressões, cânceres, distorções no campo afetivo individual e familiar, surgimento de inúmeras novas doenças, etc, e fica a pergunta “Onde é que vai dar isso ?”
No entanto, do ponto de vista espiritual, a crise é um modo de possibilitar a evolução / maturação da alma. É a oportunidade de dissolver males gerados por situações conflitantes, por isso, ela pode ser também reconhecida como uma iniciação espiritual.
Arapoti é um ritual para a expansão da alma e compreende 7 etapas :
- Crise
- Encruzilhada
- Sacrifício
- A noite escura da alma
- Morte
- Purificação
- Renascimento
A Terra tem 4 reinos – mineral, vegetal, animal e humano – e desses, 3 já cumpriram seus ritos de renascimento, mas o reino humano ainda está perdido em uma bolha de ilusão, isso é uma crise da Humanidade.
Para a tradição ancestral indígena há o princípio dos 3 mundos : matéria, psique e espírito. A concepção tupi da alma é trina e se chama Avá.
Na tradição, o ar que respiramos é o que mais se aproxima de Avá. É universal, está em todos os lugares, é o Eu Superior, a Essência Divina. Ava’ é a verdadeira mantenedora da vida, desse Ser interno que nos habita e que estrutura toda a nossa forma. A base é vibracional luminosa e se ancora no coração. Essa essência em nós deveria ser aflorada para assumir o comando de nossas inteligências.
A grande crise da alma passa de um estado fragmentado da alma para a reintegração dos aspectos : Subconsciente = Bo ; Consciente = Nheng ; Supraconsciente = Avá
Os mestres desta tradição desenvolveram métodos para que pudéssemos atuar no mundo de forma consciente através dos ritos. O fluir consciente da alma é dificultado por inúmeras crenças. Existem algumas camadas que dificultam o acesso consciente, algumas são coletivas, da humanidade, outras familiar, e outras são individuais.
Para a auto expressão individual, o propósito maior se viabiliza na medida que expandimos o Ser interno. As camadas devem ser dissolvidas e transcendidas. Segundo os mestres, não conseguimos dissolver os aspectos coletivos sozinhos, mas sim, em círculos e entrando em contato com princípios superiores.
Existem três modos de dissolver um padrão ou crença negativos.
- Pelo rito , cuja função é a criação de uma linguagem própria onde determinadas forças são acionadas e, em contato com o padrão, ele é dissolvido. O subconsciente entende essa linguagem
- Pela anamnese com a consciência para minar o padrão. Essa forma exige alguns recursos para discernir o padrão e levá-lo a ser identificado como uma lição em vez de um obstáculo
- Pela aceitação da fonte espiritual que cura. É o espírito que cura.
A Alma é a gota e o Espírito o oceano.
Há 5 mil anos atrás existia uma tradição ancestral para o desenvolvimento do ser humano que focava no aprimoramento dos aspectos internos do Ser.
A liberação de alguns padrões e crenças exige sacrifício. As culturas humanas, em uma época passada, entendiam que uma das maneiras de obter resultado, era fazer sacrifício humano. Isso continua impresso em nós.Isso é um sacrifício distorcido. Será que a grande vida exige matança ? Neste sentido sacrifício fica ligado a sofrimento.
O sacro ofício é um ofício sagrado. O verdadeiro sacrifício traz para si a responsabilidade do esforço para abrir determinados canais. Esse é o sentido ancestral espiritual do sacrifício, desidentificar-se do padrão para ampliar a conexão.
A repetição e o ritmo com disciplina tem a tarefa de liberar conteúdos arraigados subconscientes. O sacro ofício tem a ver com atitude e não exige nada em troca. Mas convém haver um reconhecimento, uma gratidão. Gratidão é reconhecimento da graça. O sacro ofício é a interiorização e o alinhamento da nossa energia de vida.
O que é a morte para cada um de nós ? Que tipo de impacto a morte provoca ? Que tipo de sensação ? Para algumas culturas é tabu falar da morte. Algumas culturas vivem como se esse fenômeno não existisse, não sabem se relacionar com este momento.
Para a cultura Bororo, de mais de 15.000.00 anos atrás, a morte física – Aroê – era reverenciada e significava o apogeu de uma vida. Era um presente glorioso da Terra que merecia ser festejado. Para a cultura Kamayurá, a morte é um momento de preparação para o nascimento em outros mundos melhores. São culturas aonde a morte é uma passagem.
O rituais em torno de uma fogueira são algo que, do ponto de vista da cultura humana como um todo é familiar a todos. É uma mandala ancestral e nos conecta coletivamente. Nas tradições de sabedoria, o fogo é o fundamento da inteligência divina, é um portal de conexão com ela. No nível físico ele destrói, no nível psíquico ele purifica e no nível espiritual, ilumina.
Na tradição ancestral, os elementos terra, ar, água e fogo, não são só energias, mas sim corpos de entidades. Os cantos indígenas tem um significado vibracional. Reverenciar e agradecer é o que fazemos diante da divindade. Não pedimos nem negociamos nada. Os trabalhos e rituais ligados às forças da natureza são acompanhados pelo circulo dos ancestrais. Mas o rito vai além, ele compreende a possibilidade de sermos canais para a cura da Terra e da Humanidade.
As tradições xamânicas trabalham com os elementos da natureza e com o equilíbrio das funções psíquicas. A Humanidade cortou seu vinculo com as culturas indígenas e isso provocou um atrofiamento da sua alma. Desenvolveu predominantemente a função pensamento.
O pensamento está ligado ao ar, a emoção à água, a sensação à Terra e a intuição ao fogo. O homem contemporâneo não sabe lidar com suas emoções, sensações e intuições. Existe hoje uma deficiência das inteligências , apenas a inteligência racional e’ valorizada . A Espiritualidade precisa ser desenvolvida e para isso temos que romper com algumas crenças.
Não nascemos novamente somente `a cada encarnação . Podemos nascer de novo a cada dia de nossas vidas porque e’ isso que ocorre corporalmente a cada uma das nossas células . Entre o passado e o futuro. Nascer de novo e’ um treinamento para estarmos presentes, lúcidos no aqui e agora da existencia.
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Workshop conduzido por Kaka’ Wera’
São Roque 23/24/25 janeiro 2015