“Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma estrada,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro.”
Fernando Sabino
Ao contemplarmos a impactante pintura “O Grito”, de Edvard Munch, podemos observar 3 planos. Assim como na vida, são momentos nos quais podemos nos fixar, ou estarmos de passagem.
No primeiro plano, uma estática figura humana expressa sua face angustiada; no segundo, duas pessoas caminham juntas atravessando uma ponte; no terceiro plano, ao longe, outras pessoas navegam em águas claras. Uma imagem rica em analogias sobre o lugar, o tempo e os desafios que vivemos atualmente na nossa relação com o medo.
Pensando em planos e na direção do olhar, podemos refletir sobre este convite que o assombro nos faz. E talvez, formular perguntas para as quais ainda não tenhamos respostas. Em que plano estamos ancorando nossa consciência sobre nós mesmos? Sobre os outros seres humanos? Sobre a vida na Terra?
O medo nos remete à paralisação, ao limiar com o desconhecido, que, por sua vez, está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento humano. Ao longo de toda a existência, vivemos entrando e saindo de diferentes ciclos, tendo que abandonar antigas seguranças e nos abrindo para o novo.
Ele é um elemento natural e necessário ao amadurecimento da autoconsciência. Ele nos desperta! Revela-se um guardião que nos impede de adentrar sem preparo no escuro, e, por isso mesmo, um semeador de forças de confiança inerentes à sua própria superação.
Um pensar menos denso e mais sutil, amplo e fecundo, reconhece naquilo que nos amedronta, no corpo e na alma, a manifestação da natureza humana em evolução.
Somos passantes. Da gestação ao nascimento, à infância, à juventude, à maturidade, à velhice.
E, em essência, da inatalidade à eternidade.
Eliane Utescher
Psicóloga / Terapeuta Biográfica
08/05/2020