Seminário de Pedagogia Social

 

Vimos na primeira parte deste seminário, que o ser humano é um ser que se desenvolve em dois mundos e que a alma é o elo de ligação entre o pólo físico e o pólo espiritual. Que podemos chamar de corruptelas frias, as do pólo físico, de baixo, e de corruptelas quentes, as do pólo espiritual, de cima.

A passagem do Evangelho conhecida como a tentação de Cristo, e a imagem do momento da morte na cruz, que é o mesmo que o nascimento do amor universal na Terra, ilustram o sentido do que segue.No caminho da liberdade, na emancipação das leis externas, o ser humano volta-se para dentro e encontra essas forças : do poder ( frio ), da sabedoria( quente ) e do amor. Os movimentos desequilibrados a partir da sabedoria  são a simpatia, não ao mundo, mas a si mesmo, e a  partir do poder, a antipatia  voltada ao mundo, quando deveria estar voltada a si mesmo como força de consciência, de avaliação de si mesmo.

 O caminho de auto educação é pelo meio, no intuito de fazer essa inversão, ou seja, que o calor se volte para o mundo e que a frieza da objetividade se volte para si.

Para que o social como qualidade possa surgir, sempre é necessário mais de uma pessoa. Só é possível que minhas necessidades ( mundo físico ) sejam atendidas pelas capacidades ( mundo espiritual ) do outro, e que minhas capacidades atendam às necessidades do outro : “Onde duas ou mais pessoas estiverem reunidas em Meu nome, lá estarei no meios delas”.

As condições sociais desastrosas de hoje no mundo e o caos ecológico, têm um lado positivo – a humanidade está fazendo o que quer. Antigamente, ela fazia o que devia ser feito, ou então consultava a bíblia, os oráculos, ou ainda dançava em transe, e aí descobria o que fazer. Hoje há a libertação do desejo de qualquer regra, que então, deixa de ser englobado dentro de um todo.

A época em que vivemos não tem mais o pão e o vinho ( do céu ), e sim, o óleo e o minério ( da terra ) . Temos que assumir o desafio de descobrir o que queremos fazer. Qual é o caminho ?

Nós não o temos, e devemos buscá-lo porque ninguém o trilhou ainda.

Em um caminho que ninguém percorreu, não posso ir constantemente em frente, tenho que parar para olhar ao redor. O que vem pela minha frente ?

Onde quero chegar ? Quanto tempo agüento esse tranco ? Quando vou descansar ?

Tem-se que, de tempos em tempos, parar e olhar os caminhos que já se percorreu, olhar o veículo com que se chegou até o momento, fazer manutenção, ver o estrago dos solavancos, o que ainda funciona, e o que precisa de reparos. É preciso recuperar a confiança no veículo, nas pessoas com que se está junto, em si mesmo.

No momento que o veículo empaca, todos param para empurrar, porque o caminho é novo e os envolvidos o escolheram. É nesse ponto que muitas vezes se deseja voltar no caminho, pegar a estrada velha e/ ou pedir ajuda. Como sair dessa ? E a relação com os que se está junto ? E na relação com que se tem com a verdade e ao que se propõe ?

Muito depende da habilidade que se desenvolve em lidar com o próprio instrumento. Há que se pensar na convivência, em saber se relacionar com os que estão ao redor, e ter qualidades práticas para consertar o veículo, ajustar o que ele precisa.

Por caminhos novos se descobrem novas belezas e, se quero ver o belo,preciso procurá-lo, ninguém me dirá onde devo olhar. É preciso estar de olhos abertos. É preciso desenvolver o diálogo para chegar à verdade do que é recomendado e desejado. Tem-se que aprender a alimentar os talentos para poder conviver neste trajeto : cultivar os dons, a nobreza, as virtudes .

Precisa-se de habilidades sociais e conceituais, e todas elas requerem desenvolvimento. Tem-se que ser criterioso na escolha da nova condução e das pessoas com quem se quer seguir este caminho.

As forças que ajudam nesse caminho, são essas forças que podem ser as forças do mal – elas também são aliadas. Há que haver o reconhecimento de com quem se está na mesma caminhada e propósito, porque isto muda conforme a caminhada. Não dá para prever tudo, mas pode-se tentar andar com isso.

É necessário a força da responsabilidade para que se possa responder por aquilo que se faz. Ameaças à integridade e punição são formas passadas de lidar com o erro. Hoje se é co responsável, tem-se que encontrar formas sociais de lidar com as conseqüências das próprias ações e a avaliação das mesmas. E a melhor forma é a pergunta de abordagem amorosa, aquela que abre, que se interessa. Preencher-se de imagens e idéias para saber o que está por detrás das aparências. Exercitar-se no ficar dentro da situação.

As coisas só se dão no vazio, nos espaços “entre” é que acontecem as coisas, entre as pessoas, entre o que tenho e o que quero, o que sonho e o que posso, entre o que quero aprender e o resultado que posso gerar.

O que acontece entre as pessoas que se encontram para estudar ?

Alguém transmite as idéias através de livros ou pessoas, alguém busca idéias e quer aprender. Fica-se enquanto se aprende e se vai embora quando não se aprende mais, pois quer-se idéias originais. Essa é a esfera do pensar.

No trabalho, fica-se junto enquanto um tem o que dar e o outro receber.

Há a separação em duas condições : quando não mais se tem o que dar, e/ou não mais receber. Esta é a esfera do querer.

Entre família e amigos se dá o prazer. Se vai embora se e quando não se sente mais tão bem.Quando se volta? Quando algo faz falta.Essa é a esfera do sentir.

No sentir, queremos paz de espírito e harmonia, no pensar estado de graça, e no agir, satisfação.

Onde está o meio, o entre, no campo onde as pessoas se encontram para ter idéias ? De que forma se precisa para se chegar a isto ?

Onde está o novo, nisto que é velho no pensar ?

Temos que nos sentar juntos e aprender a aprender, a perguntar, a achar a pergunta certa, a ver o que é a essência naquilo que o outro diz. É preciso dar chance à ouvir a idéia do outro e ter humildade na presença do erro. Aceitar o desafio de me tornar um cientista do espírito humano, e com perseverança, lidar com os erros, com disposição, reconsiderar os próprios erros. É preciso desenvolver a capacidade do pensar vivo, porque, na velha forma, estava-se acostumado a memorizar.

O que é o novo no campo do sentir ?

É alguém se encontrar com pessoas porque esses seres humanos lhe interessam e se está disposto a partilhar, ter responsabilidade, estabelecer novas relações. Temos medo de perder amigos e é preciso dar o passo no sentido de buscar outros. O novo está em sair de si e assumir a sua posição com coragem e iniciativa.

O que é novo no campo do agir, do querer ?

É ter que contribuir, dar condições para o outro se desenvolver. Oferecer oportunidades ao talento para que ele se desenvolva.

O novo no pensar, sentir e querer é buscar novas formas de aprender em conjunto, porque em todas as formas velhas, quando se esgotava algo, passava-se por cima, deixava-se para traz e pronto.

Errar, se for preciso. Chorar, se não der mais. Desistir, nunca !

O que está no ar ? É o que está entre o velho e o novo, o que está no meio.

Neste seminário, viemos do velho para o novo, e agora temos de carregar o novo para o velho. O caminho começa no eu e vai para o nós. E, para isso, é preciso dar conta de si mesmo. É necessário investigar para se orientar.

O que precisa acontecer ? Quem está nessa, que pessoas ? Quais pessoas precisam saber da minha “viagem” ? Quem apóia ou dificulta ? Que especialistas preciso para esta nova empreitada ?

Não se começam grandes empreitadas de um pulo só. Nas grandes viagens, devagar é pressa. É melhor fazer no pequeno, porque uma grande mudança é irreal. Experimentar o que é possível e viável. Testar no pequeno.

Na implantação de qualquer coisa, sempre surgem novidades e imprevistos, é preciso não se irritar, não perder a calma. Tem muita coisa que ainda não dá certo, não está bom ou ajustado. Tem-se que ir corrigindo o que não está certo, não adianta empurrar com a barriga.A fase seguinte a esta é a da consolidação.

No momento em que vem o “nós”, tem-se que pensar no outro, tem-se que abrir os próprios objetivos,falar sobre o que vai fazer,colocar as cartas na mesa

No caminho pessoal, cada um aprende a sua viagem : individuação.

Há uma emancipação. E isso gera amor próprio que cega para o que se é realmente. É preciso olhar a sombra, senão se incorre em ilusões e, nesse momento, começa-se a ser anti-social. Somos anti-sociais até no amor.

Mas, a partir do momento em que se fala das próprias idéias para as pessoas, elas começam a pensar. Se não o faço, protelo a evolução do outro, promovo a dependência, adormeço-o.Conviver é viver com os outros,não é viver sozinho. Porém, o movimento da leminiscata é necessário, para dentro e para fora.

Erro é que nem caixa dois : se a gente não contabiliza, não vira patrimônio !

 

                   Herwig Hättinger

                  ( coordenação geral / julho 1991 / segunda parte )

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Published in: on 30/07/2009 at 7:30 p07  Deixe um comentário