Cap V
Rudolf Steiner deu até uma medicação para curar os rombos que ficam na alma nos desencontros. Vamos ter que assumir isso sob pena de ficarmos doentes, mas pelo bem da humanidade assumimos esse processo de doação. Podemos construir um mundo melhor na medida em que conseguimos realmente esse processo de doar de dentro de nós e devolver para o outro aquilo que ele plantou e que estamos acolhendo.
A relação pai-filho não está relacionada com superioridade e sim com quem morreu antes. Quem morreu antes nasce pai e quem morreu depois nasce filho. Para o mundo espiritual a diferença de 20 anos é insignificante e é uma relação de igualdade e isso aumenta a responsabilidade da paternidade e temos que saber que cada filho que nasce também vai despertar dentro de nós uma série de coisas e que ainda a criança não tem condições de saber lidar com isso. Ex: ter um filho que causa uma antipatia enorme, outro que causa uma simpatia que todos os filhos percebem.
Ou seja, tem toda uma série de relações com filhos que depende de relações anteriores e que se não percebermos que devemos construir a paternidade, apesar dessas diferenças, isso vai machucar muito afetivamente as crianças que ainda não tenham maturidade. Então, o que muda, ser pai ou filho, é a noção de responsabilidade que os pais devem ter e saber que os filhos vão trazer conteúdos que vão mobilizar muito, muito além do que esperamos. Tem filhos que provocam coisas que torna a relação muito difícil, a criança abre a boca e já nos irrita. A criança, mesmo que ela tenha plantado, é uma criança e aí depende muito mais da capacidade do adulto de entender seus conteúdos para ver como vai se relacionar.
Então, o que muda é o senso de responsabilidade, quem chegou primeiro tem que segurar a parte mais difícil. Em relação à criança tem uma situação que ainda é bem complicada e que hoje em dia está pior pela grande onda de abortos. Diz Steiner que está difícil hoje em dia (já estava na época dele), pois se programa, combina, vai se encontrar, escolhe pai, mãe, acontece tudo, fecunda e pronto, vai parar no lixo. O que acontece com essa alma? Onde vai parar? De que forma ela vai se encontrar?
Acaba acontecendo que muitas vezes, muitas crianças terminam nascendo em lares que não era exatamente o combinado, mas que se tentou fazer uma combinação no mundo espiritual para nascer de tal maneira que talvez dê para encontrar com essas pessoas porque era muito importante para essa alma. Isso quer dizer que toda essa tentativa do espiritual para os encontros na terra, hoje em dia dá em situações como essa, onde muitas vezes percebemos pais com filhos que parece que não têm ligação nenhuma. São comuns também crianças que nascem numa família, mas a ligação mesmo é com a tia, a ligação não é com a mãe e muitas vezes até acaba sendo quase que criada por ela.
O aborto espontâneo já é totalmente diferente e existe o carma deste aborto, que é chegar a viver no útero de uma mulher e ir embora (é um destino) fazendo parte de uma evolução. Numa adoção pode haver mil situações diferentes, pode ser desde uma situação de reencontro através da adoção como pode ser uma situação nova onde por sensibilidade está adotando uma criança que não tem nenhuma ligação cármica. Quando descemos para a terra, passando pelo astral, as primeiras pessoas que encontramos são as últimas que vamos encontrar na vida e as últimas que encontramos são as primeiras.
Para entendermos a alma não podemos projetar o mundo físico, a alma pertence a uma dimensão que não é física, por isso temos tanta dificuldade em entendê-la. Normalmente se afirma que dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Esse princípio deveria ser enunciado assim: dois corpos que não possam ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo são corpos físicos. Se puderem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo já não são mais físicos, é algum outro tipo de energia como acontece com a alma. Temos uma noção de separatividade no mundo físico que no mundo espiritual não existe e quando estamos cuidando interiormente do que outra pessoa nos provocou estamos também trabalhando dentro da pessoa. Se cuidarmos com afeto, sabedoria, amor, daquilo que sentimos isto vai influenciando no outro ser, não precisamos abrir a boca.
Precisamos amar, cuidar do que temos interiormente. Esse pedaço que carregamos dentro da alma vai produzir efeito no outro. Não é que devolvemos como se fosse de uma forma física, mas o próprio trabalho interior, quando estamos no plano anímico, emocional, age também dentro da alma do outro pois não somos separados neste nível . Por isso as vezes podemos devolver sem que a pessoa saiba. Temos que perceber que quando estamos mergulhando dentro de nós, não estamos simplesmente indo num processo individual, mas também estamos nos relacionando com a pessoa que está fora.
Outra força anímica que Steiner coloca é que projetamos muito para o mundo espiritual questões do mundo físico. Sabemos que a soma das partes, no mundo físico é igual ao todo e que no mundo espiritual não é assim. No mundo da alma se temos uma vez e damos tudo que temos ficamos com muito mais. Então, todo processo de relacionamento com o outro é baseado nessa percepção interior: acharmos que no momento em que surge o conflito temos que segurar e proteger. Mas assim ficamos cada vez mais pobres e mais vazios. Ou seja, o processo que ajuda para que um enrosco se resolva, se dissolva e se transforme num processo construtivo é sempre um processo de doação.
Na medida em que nos doamos surgem mais forças e mais conteúdos que ajudam a lidar com o problema.Todo processo de medo, de defesa, dificulta. Temos sempre que nos lembrar que num encontro sempre está havendo um encontro espiritual. Os seres espirituais também deixam pedacinhos dentro de nós, não são só os amigos. Nós não deixamos nada no mundo espiritual, não temos essa possibilidade quando estamos para encarnar. Então, quando vamos encarnar recebemos uma série de coisas e dentro de nós encontramos pegadas de todos esses seres que ajudam na construção do corpo. (Ex: o anjo ajuda a fazer o ouvido, o arcanjo ajuda o sentido da fala, etc). Então, nós temos pedacinhos dos seres espirituais, mas não deixamos nada com eles, eles se doam de verdade.
Qual a importância, para o mundo espiritual, dos relacionamentos afetivos? No momento em que os seres humanos conseguem se relacionar, apesar das dificuldades, devolvem para os anjos os pedacinhos que são deles. Todo o mundo espiritual está na maior torcida para que nós consigamos nos amar, porque no momento em que nos amamos, damos aos anjos algo que eles estão esperando há milênios.
A possibilidade de amar em liberdade é algo que nós, seres humanos, vamos desenvolver no universo. O mundo espiritual tem amor, mas não tem liberdade, a liberdade é algo do ser humano. Mesmo com toda raiva, toda inveja, toda insegurança, dizer “eu vou continuar, vou batalhar e conseguir construir uma coisa bonita ”, neste momento o mundo espiritual passa a ter coisas que nunca teve e aí assumimos a maioridade na terra e devolvemos para aquele mundo, qualidades que somente o ser humano pode trazer. Do contrário, quando não conseguimos, contaminamos a atmosfera com seres que vamos criando.
No mundo espiritual existem seres que reciclam certos sentimentos, da mesma forma que temos bactérias para reciclarmos as fezes. Então, tem seres que comem inveja, tem seres que comem raiva, ciúmes, etc. Quando vamos sentindo muito ciúme esses seres vão engordando e vamos alimentando-os e eles vão ficando fortes. Só que eles têm uma relação simbólica com a gente e na medida em que ficam famintos ficamos com vontade de ficar com ciúmes, e não damos conta de que não estamos respondendo a um chamado do EU, mas estamos respondendo a um sanguessuga que fica pedindo mais ciúmes, e assim vamos alimentando esses seres. É bom nos conscientizarmos de que esses sentimentos, isso que é como uma infecção da alma, não devemos simplesmente cortar, caso contrário vamos cada vez mais alimentando uma série de seres que estão vivendo disso (inveja, rancor, ódio, etc).
Nem todos os sentimentos negativos que temos envolve a presença de seres espirituais que se alimentam deles (muitos sim, mas nem todos). A depressão pode ser um estado criado por certos seres, mas pode também ser um problema orgânico. É muito mais fácil se relacionar e construir vínculos com uma pessoa que não temos uma relação cármica. É muito mais fácil, embora tenha menos colorido, menos cenas de bater porta, etc. Então, isso não quer dizer que não devemos construir relações e vínculos de uma forma consciente com pessoas pelas quais não sentimos tudo isso. Nem todas as relações que construímos têm um sentido cármico, inclusive Steiner diz que quando conseguimos amar uma pessoa, seja lá em que situação for, isso nunca mais vai voltar. Tudo o que fazemos por amor não produz carma, é um ato de doação que não tem volta.
Relações nas quais encontramos com uma pessoa e de alguma forma mágica flui, tudo é fácil, as palavras se entendem, são situações que estão muito próximas do amor, ou seja, estiveram muito próximos do amor na vida anterior. Quando estamos no plano astral, antes de encarnar, recebemos pedacinhos dos anjos e não podemos devolver no plano espiritual, só podemos devolver encarnados. Ou seja, esse trabalho só tem valor enquanto estamos no plano físico e a única forma de devolver isso é vindo aqui na terra e os seres espirituais estão esperando isso da gente (anjos, arcanjos, serafins, querubins).
No mundo espiritual somos coletivos, somos humanidade, quando morremos temos uma ligação muito forte com a humanidade e esta ligação de uma alma com outra nem interessa para o mundo espiritual, esta é uma condição muito humana. O processo de conseguirmos manter as forças necessárias para poder ter vínculos mais construtivos é o contato mais constante com o mundo espiritual, ou seja, é o fato de poder estar orando para o anjo da guarda, estar preocupado com todo o desenvolvimento da humanidade, o respeito pela natureza, pelos ciclos, pelo planeta.
Gerardo A.Blanco