O Gólgota até o domingo de Páscoa é um evento em si,
como se os deuses sustentassem a respiração.
No domingo de Páscoa, a leveza venceu o peso, as forças da ressurreição venceram.
Cristo , com sua ação, conseguiu indicar um rumo, mas cada alma, nessa luta entre a leveza e o peso, tem que fazê-lo.
A partir do momento que a alma não tem a orientação do espírito, ela cai no peso. O ano de 860 , quando no Concílio se aboliu o espírito, foi um atuar arimânico.
A lógica causal é o grande triunfo de Ahriman ; ela é retirada de um mundo que não conhece mais desenvolvimento, onde não há mais metamorfoses e tudo está fixado, parado, morto. Conhecendo-se as leis, consegue-se dominar esse mundo. Esse é o mundo do “se isso, então aquilo”, onde o homem está condicionado pela sua hereditariedade por um lado, e pelo seu ambiente de outro. Com essa maneira de pensar, o homem se torna técnico-mecanicista em um sistema fechado, um pensar que se exercitou em um mundo morto.
Quando não há mais espaço de liberdade, como não mais se pode vivenciar um sentido nesse mundo causal, então a alma cai no peso.
Tudo hoje em dia se torna problema, e problemas sempre são pesados, e somos amarrados pelas coisas escuras. Aquilo que cai na matéria, onde domina o peso, fica separado espacialmente, e as pessoas que caem neste mundo com a alma, também vivenciam essa separação, não encontram a ponte para o outro. Entropia social é uma tendência onde o social vai se decompondo em sua menor unidade, o homem.
O fenômeno do medo é, ao lado destes aspectos anteriores, aquele que colabora para o peso. Onde a alma não enxerga mais a luz, ela enxerga a escuridão e lá está o medo.
Quando não se consegue ver sentido ou luz no futuro, vem o medo, que é uma das forças dominantes da nossa época.
Portanto, os fatores arimânicos que contribuem para o peso da alma são :
1) quando tudo se torna problema ; 2) entropia social ;
3) medo.
Mas Lúcifer também contribui para o peso da alma.
Ele é o Ser que também quer segurar o passado, mantê-lo transformado no tempo atual, e disso pode surgir um imenso peso. Por exemplo, o peso da tradição, da continuidade de uma antiga hierarquia, a conservação de velhas formas jurídicas, a burocracia, que é um cobertor de chumbo, etc. Finalmente, pessoas que sofrem com um passado não metabolizado, que sofrem sob o sentimento de culpa.
Ao mesmo tempo, Lúcifer oferece uma saída, uma leveza enganosa como as drogas, o álcool, a tv, um caminho e uma solução fácil e “leve”.
O resultado destas saídas, a gente só sabe depois, com a ressaca destes caminhos. E o cotidiano então, pesa, e chama com saudade, mais saídas desta natureza, gerando escuridão.
O que significa lutar para conseguir vencer o peso com a leveza que não é luciférica ?
Uma imagem que nos é dada, é a imagem do próprio homem, que está posicionado sobre a Terra, mas que com o seu andar ereto, vence o peso.
O segredo de se manter no peso e buscar a leveza pode ser visto no pé, que no meio tem aquela ponte maravilhosa, onde o homem se coloca.
Neste sentido, no físico, já conseguimos vencer o peso com a leveza, mas, na alma, precisamos conquistar.
O caminho de iniciação antroposófico é um caminho crístico arquetípico, que pode nos levar ao reino da leveza, mas, que apesar disso, se liga ao mundo do morto. Esse caminho parte do pensamento moderno intelectual ; essa iniciação também se liga às impressões sensoriais externas e leva o pensar intelectual um passo além, reforçando o pensar vivo em lugar das representações meramente intelectuais. Com isso, liberta o pensar do cérebro morto e abre caminho para um pensar vivo, incorpóreo.
Aumenta também, a capacidade de percepção.
Podemos perfeitamente falar de uma ressurreição desse pensar morto, e quem caminha por essa via, vivenciará a leveza,o acordar do Eu no etérico. Mas esse acordar não significa uma vontade de se desfazer do peso, ao contrário, ocorre uma intensificação de levar essa leveza para o mundo.
No campo social, isso significa criar formas não hierárquicas, onde as pessoas podem voltar a respirar e serem ajudadas a elas mesmas vivenciarem sua leveza.
Na agricultura biodinâmica, Rudolf Steiner deu orientações para “eterizar” a Terra, onde ela é elevada novamente para sua esfera vital própria.
Na medicina, através da dinamização dos medicamentos, a matéria é vencida, e o medicamento levado à leveza.
Quais as características anímicas das pessoas que conseguem a leveza ?
Uma alma dessa, tem uma certa abertura para o outro, interesse por tudo o que é novo, não tem preconceitos ; ela tem aquela mobilidade interior para observar os fenômenos a partir dos mais diversos lados, e, por outro lado, tem a capacidade de unir modos de pensar os mais diversos. Todos os dogmas e sectarismos lhe são desconhecidos.
Outra característica dessa alma, é uma capacidade lúdica, principalmente no âmbito social ; ela evita de se fixar em soluções já existentes, não se afunda em posições já fixadas, não tem procedimentos previstos, e tem uma fantasia social onde, nos conflitos, sabe levar as coisas ao movimento, ou seja, um artista social segundo Schiller.
Uma terceira característica de uma alma dessas seria uma capacidade de reformular problemas e torná-los novas chances.
A quarta capacidade de uma alma leve é o humor,sem ele tudo cai no peso.
A quinta e última capacidade é a alegria ; uma alma que conseguiu conquistar a leveza, com certeza tem alegria dentro de si, mesmo que essa alegria foi conquistada através de estados de doença e muito sofrimento.
Alegria não é divertimento, é uma conquista da alma sobre o peso, e por isso passa a ter uma qualidade toda especial e isso está em uma oposição grande às almas pesadas que poluem o mundo com o seu mau humor, o descontentamento, críticas e problemas.
A alegria de uma alma leve é uma certeza interior.
Alexander Boss